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No título do novo filme do turco Nuri Bilge Ceylan, Winter Sleep, a junção das duas palavras — inverno + sono — gera uma consciência vital do tempo, do seu carácter inexorável, tanto quanto da sua inacessibilidade descritiva. Vivendo numa espécie de exílio interior, algures numa zona remota da Anatólia central, as três personagens principais — um homem + a sua mulher + a sua irmã — vão confrontar-se através de um instrumento tantas vezes banalizado na aceleração mediática dos nossos dias. A saber: a palavra. Numa descrição algo irónica, porventura sugestiva, diríamos que, até certo ponto, com os seus frondosos diálogos, parece um filme de Eric Rohmer, incluindo no modo como as trocas da fala podem envolver cada um numa interrogação drástica da sua identidade moral. Mas o esplendor cruel do Inverno é exclusivo do olhar de Ceylan.